Já aqui escrevi várias vezes sobre a vida, os caminhos que trilhámos, as experiências que tivemos, as dores e as mágoas que sofremos, a felicidade sentida, a partilha de sorrisos e de alegrias, os amores e o fim daquilo que julgávamos ser eterno. Eventualmente não haveria muito mais a dizer, mas há, oh se há! Quantos de vós não teve momentos em que julgou ter esgotado todas as forças? Em que se sentiu traído? Em que pensou ter perdido a capacidade de amar? Em que cerrou as mãos ao próximo? Em que criou um muro intransponível ao seu redor? Em que disse para si mesmo que jamais voltaria a ser quem foi? Sempre que estas fases inundam a nossa passagem terrena, são ciclos que se fecham. É nestas alturas que tudo deixa de fazer sentido. São etapas de um crescimento difícil e doloroso de aceitar. É como se estivéssemos à beira de uma falésia íngreme, com os pés em solo firme, mas com uma vontade castradora de saltar. É como se estivéssemos ali, parados, imóveis, diante de um enorme precipício, com o mar a nossos pés, à espera que "a" rajada de vento nos sacuda. E o que acontece? Na maioria das vezes, esperamos e esperamos por esse sopro, que teima em não chegar, que agudiza a emboscada final. Este é o tempo certo para que possamos fortalecer as fraquezas que nos consumiram. Quando menos esperamos, a tempestade que se havia abatido sobre nós dá lugar à bonança. É aqui que um novo ciclo começa, com a certeza que trará muito de novo, mas também muito do que já foi. Valha-nos a convicção que cada reinício de vida nos confere mais sabedoria, mais cautela, mais sensibilidade, menos ingenuidade, mais forças, mas também muitas fraquezas adquiridas. O renascer é provido de um lado menos bom. É inevitável a herança do passado, as lágrimas que ficaram por chorar, a saudade do bom que se teve, a angústia do que se poderia ter tido, o amor que se perdeu, o empenho aparentemente vão, as palavras refreadas. Claro que podem dizer, e dizem, "mas estás numa nova etapa da vida, vamos esquecer o que passou, viver o hoje e não temer o amanhã!". Eu prefiro dizer que o passado jamais deverá ser esquecido, porque o que vivemos, de bom e de mau, nos tornou naquilo que somos. Ainda que mais prudentes, mais resguardados, o valor que se dá ao que se tem é maior, muito maior. E sim, é bom olhar para as feridas e chorar sobre elas, pois só assim não esquecemos quem somos!
Até amanhã ou depois!