quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Hoje foi dos dias em que consegui chegar a casa a horas decentes. Que bem me soube dedicar-me às lides domésticas, brincar com as minhas filhotas felídeas e vegetar frente ao TV a ver novelas brasileiras. Tive tempo para muita coisa, até para pensar e pesar os prós e contras dos últimos meses. Muito aconteceu, de bom e de mau. Tendencialmente pensamos e valorizamos os aspectos negativos. Eu não sou excepção à regra. No início de 2008, a 14 de Janeiro, fui submetida a uma cirurgia que tinha tanto de vulgar, como de complexa. Pela segunda vez foram-me retirados nódulos mamários. Não sei precisar a quantidade de pontos que levei, mas foram seguramente várias dezenas. Ficaram marcas para toda a vida. Marcas difíceis de ignorar, de superar e de esquecer. A recuperação foi dolorosa, complicada e medonha. A operação não correu como o previsto. Confesso que, por momentos, pensei que nunca mais voltaria a estar junta dos que amo. Apesar das dores, da monstruosa indisposição e dos olhares preocupados de médicos e enfermeiros, não desisti. Quis Deus e a minha vontade de viver que hoje estivesse aqui.
A primeira meta foi ultrapassada. Regressei a casa e aos poucos fui retomando a normalidade de um dia-a-dia. Os primeiros tempos de pós-operatório foram conturbados. Tinha medo de encarar as pessoas, fossem elas família, amigos ou conhecidos. Se por um lado queria estar acompanhada, por outro, escondia-me. As dores e as náuseas eram mais que muitas, mas sabia que não me podia entregar ao facilitismo que era o de lamentar a minha condição. É verdade, estava mais carente, pedi muitas vezes atenção, mas aos poucos fui erguendo a cabeça e encarando a vida, tal e qual como sou/fiquei. Os dias que se seguiram foram aterradores. Pela primeira vez, em dez anos de jornalismo, descobri qual a sensação de estar desempregada. Mais uma muralha desabou sobre mim. Cedi, chorei e desesperei. Deixei o orgulho de lado e vi-me obrigada a pedir ajuda. Ainda que essa mesma ajuda não fosse a necessária, não deixei de olhar em frente.
Alguns meses depois, voltei a ver o sol brilhar. Por agora limpo os escombros e tento reerguer o que a tempestade destruiu.
Acredito que quem me lê deverá, por esta hora, interrogar-se do porquê deste texto. Respondo directa e friamente: Porque não devemos temer o que há muito está traçado. Porque não devemos desistir de lutar, apesar das adversidades. Porque a vida existe e é para ser vivida. Porque todos nós somos detentores de uma força imensurável.

IMG CS

Até amanhã ou depois!

3 comentários:

Sara M. disse...

no mundo dos blogs vamos conhecendo as pessoas aos pcos, apenas o que elas nos vao mostrando. de ti ainda nao sabia mto. este foi o post em q mais te mostraste, em que te senti, de alguma forma, mais perto.

mostraste força e determinaçao.
o post dá que pensar. acho q só temos noçao daquilo que somos capazes qdo estamos em situaçoes "extremas". qdo somos colocados à prova. tu conseguiste passar o "teste". espero que consigas rapidamente limpar tdos os escombros e reerguer tudo o que a tempestade destruiu.

mta sorte e coragem :)

bjs

whitesatin disse...

"...a vida existe e é para ser vivida."

É a pura das verdades. E eu acrescento: e deve ser vivida um dia de cada vez. Porque todos os dias nos renovamos, e todos os dias nos é oferecido um leque vastíssimo de possibilidades. A nossa única responsabilidade é escolher.

Um grande abraço

Anónimo disse...

Todos os textos são reveladores! Lamento teres passado de novo por uma cirurgia!